Ler é mais do que o ato de pegar um livro e passear pelas frases impressas.
Ler é viajar no interior do pensamento de quem escreve, é dividir com o autor, pelo breve momento da leitura, o segredo contido nas páginas do livro.
É viajar por novos horizontes e se tornar íntimo de ideias nunca imaginadas.
Ler é dividir sonhos, pensamentos e vidas, entre as linhas e parágrafos preparados para nós, viajantes literários.
E alguns livros são mais que especiais, marcam nossa trajetória. Assim como são também alguns autores.
Sou suspeita para falar da Lionel Shriver, sou apaixonada por seus livros. E minha felicidade foi enorme quando recebi mais uma obra dela, editada no Brasil pela Intrínseca. O livro em questão chama-se Tempo é Dinheiro.
Depois de ler Precisamos Falar Sobre Kevin, O Mundo Pós-Aniversário e Dupla Falta, nada mais me surpreende quando o assunto é esta autora intensa e criativa. Observando a capa, lendo a quarta capa, fiquei imaginando qual seria o foco escandalosamente real e visceral da vez.
Tempo é Dinheiro fala de vidas devastadas por doenças, fala do sistema fiscal nada democrático dos Estados Unidos da América e, o principal, fala de seres humanos, com toda sua luta e sonhos. Shep Knacker, um americano cinquentão, pai de família tem um sonho. Ele sonha em jogar tudo pro alto e começar uma nova vida, a Outra Vida. Porém seu sonho vem à baixo exatamente no momento que ele cria coragem para realizá-lo, depois de anos de sonhos e planejamentos, sua esposa Glynis está com câncer.
Agora a realidade bate violentamente à sua porta e ele precisa continuar carregando todo o peso de uma enorme responsabilidade, por sua esposa, seus filhos e sua família. Jackson, seu melhor amigo, vive há muitos anos em sua tragédia particular, sua filha mais velha Flicka tem uma doença degenerativa e precisa de todos os cuidados médicos e pessoais possíveis. A vida destes dois homens é baseada em luta e sonhos. Cada um a seu modo, vagueia por veredas nada fáceis. Até que o desfecho improvável e mais que real acontece.
A autora possui uma forma muito particular de escrever. Ela versa entre divagações e fatos em tom crescente, até chegar ao desfecho-clímax. Ela, diferente de muitos autores, sabe como escrever o fim, fecha o pano de suas histórias com maestria raramente vista.
Sobre a autora: Criada numa família extremamente religiosa, Lionel Shriver já havia publicado seis romances antes do best-seller Precisamos falar sobre o Kevin. Este, que foi recusado por trinta editoras, rendeu-lhe o Prêmio Orange, na Grã-Bretanha, em 2005, concedido apenas a escritoras.
Colunista do jornal The Guardian, ela também já colaborou para The Wall Street Journal, The Independent e The Economist. Viveu em Nairóbi e Bangcoc, mudando-se depois para o Reino Unido. Passou doze anos em Belfast, na Irlanda do Norte, e oito em Londres, onde mora.
Sinopse: Shep Knacker sempre economizou para a "Outra Vida": um retiro idílico no Terceiro Mundo, onde um modesto pé-de-meia poderia durar para sempre. Os engarrafamentos de Nova York seriam substituídos por tempo para "falar, pensar, ver e ser" - e por horas de sono suficientes. Quando ele vende sua empresa de consertos domésticos por um milhão de dólares, parece que seu sonho finalmente será realizado. Ainda que Glynis, com quem é casado há 26 anos, sempre arrume desculpas e diga que nunca é o momento certo para partirem. Cansado de trabalhar como um peão para o idiota que comprou sua companhia, Shep anuncia que está de mudança para uma ilha na Tanzânia, com ou sem a esposa.
Recém-chegada de uma consulta médica, Glynis também tem um anúncio a fazer: Shep não pode ir a lugar algum. Ela está doente e precisa desesperadamente de seu plano de saúde. Mas o convênio cobre apenas parte das despesas incrivelmente altas do tratamento, e o pé-de-meia de Shep para a Outra Vida parece se desfazer a cada dia.
Um romance brutalmente honesto, Tempo é dinheiro acompanha as transformações de um casamento que é posto à prova ao mesmo tempo que se fortalece com as exigências de uma doença grave, e se revela uma inesperada oportunidade para a ternura, a renovação da intimidade e o humor ácido. Em uma pesada crítica aos sistemas de saúde, Lionel Shriver se atreve a fazer a temida pergunta: quanto custa a vida de uma pessoa?
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